Neste post quero falar sobre um tema tenso: Desapego.
Trabalhando como profissional da organização, quando falo com meus clientes do desapego, eles já imaginam que eu vou pegar todas as coisas deles e jogar fora. Às vezes acreditam que vou obrigá-los a viver com dez peças de roupas. Calma gente! Não é assim! Vou explicar com tudo para vocês, mas antes vamos começar pelo começo! Vamos falar do que é apego.
Apego
Você sabe o que é apego? De acordo com o dicionário Houaiss, apego é uma ligação afetuosa, afeição, estima.
Então podemos dizer que o apego é um elo, uma ligação afetuosa que nós temos com um objeto por alguma razão. E digo mais, que esse objeto traz uma segurança de uma certa forma, e impede de darmos outro destino para aquele objeto, seja vender, doar ou até mesmo descartar. Vamos aprofundar um pouco mais sobre o apego e falarmos dos tipos que existem. Você sabia que existem 4 tipos de apego?
O Temporal, o nominal, o financeiro e o de status. Vamos falar sobre eles para você entender qual deles você tem. Vamos lá?
Tipos de apego
1. O apego Temporal
É aquele em que a pessoa vive no passado ou no futuro. No caso o apego sempre está vinculado ao que já aconteceu ou que vai acontecer, nunca está no presente. Como assim?
1.a. Passado: Algo aconteceu tempo atrás (distante ou não) e a pessoa não consegue se desvincular daquele objeto. Vamos imaginar uma situação hipotética: uma criança que fez aulas de ballet e ela amava as aulas, as apresentações e ela era boa. Com o tempo as outras atividades de escola foram tomando mais tempo do que antes e ela acabou parando de fazer o ballet. Para ela foi uma época tão mágica, tão especial que até hoje, com 30 anos ainda guarda em algumas caixas todas as coisas que ela usou na época: as sapatilhas, as roupas, as maquiagens, fotos, vídeos, músicas, adereços e tudo mais do que você possa imaginar.
Mas aí a pergunta que você está pensando é: Por que você guarda tudo isso se já faz mais de 15 anos que você dançava ballet? A resposta é simples: Apego! De alguma forma guardar essas coisas faz essa mulher de mais de 30 anos reviver aquela fase que ela amava, e que desapegar dessas caixas significa jogar fora os momentos vividos. Porém, a verdade é que tudo aquilo são coisas, e o mais importante já está com ela, que são as lembranças.
É totalmente compreensível que ela guarde algumas coisas que representem aquela fase tão especial, afinal ela gostava muito. Mas eu sempre digo: Guarde um ou dois itens que representem aquilo que é importante para você, porque caixas e caixas daquela época só vão ocupar espaço e você raramente vai revisitá-las. Ao contrário se você escolher uma foto realmente especial, colocar numa moldura bem bonita e deixar pendurada na sua casa, vale mais do que caixas e caixas.
1.b. Futuro: Ainda no apego temporal, existe também o apego atrelado ao futuro. Esse é bem fácil de explicar: “Eu comprei essa roupa de tamanho menor pra eu usar depois que eu emagrecer.” Ou então, “Eu vou usar quando eu vou voltar pra academia”. Você passa a condicionar o uso das coisas a “um dia, quando eu…” E normalmente esse dia nunca chegue e aquelas roupas/itens continuam ali, ocupando espaço desnecessário aumentando o seu estresse.
Outro ótimo exemplo de apego temporal futuro é da nossa bailarina. Atualmente com mais 30 anos ainda guarda todas aquelas caixas e justifica que irá voltar um dia para o ballet. Vamos lá: primeiro, que ela não vai conseguir usar as coisas de quando ela era criança, pois não cabe. Segundo, mesmo que coubesse, depois de 20 anos as coisas não estarão boas e apropriadas para uso, pois elas deterioram. Terceiro, a moda está em constante evolução, novas tecnologias, novos materiais. O que se usava no ballet 15 anos atrás não é o mesmo que se usa hoje em dia.
O grande problema do apego dessas coisas é que você acumula coisas na sua casa, não usa, mas também não passa para a frente. De repente alguém próximo a você esteja precisando tanto de uma roupa de bailarina ou uma roupa de academia enquanto você tem e não usa.
2. O apego nominal
É aquele em que você se apega a presente, cartões e lembranças. Instintivamente vinculamos aquele item (que podemos nem ter gostado tanto ou que nem serve) ao carinho e apreço que aquela pessoa tem por nós. E ficamos com aquele “presente” sem usar e com receio de desprezar o carinho. No entanto, o carinho que você tem pela pessoa não está naquele “presente” e sim nos sentimentos que você tem pela pessoa e vice e versa. Nada deve ficar no meio da amizade e carinho de vocês, especialmente coisas que não fazem sentido para algum de vocês.
3. O apego financeiro
É aquele que você mantém coisas porque elas custaram muito e você não quer dar outro destino. Mesmo que não goste, ou não faça mais sentido. “Não posso desapegar desse, porque foi muito caro!”. No final você não usa, porque não nem tem mais a sua cara, ocupa espaço e toda vez que você olha para ela vem uma mensagem “foi caro!”. Isso te impede de dar outro destino. Atualmente existem muitas opções de venda de segunda mão que acabando minimizando esse sentimento de apego, mas o fato de pagar caro não é um motivo para guardar algo que você não usa.
4. Apego de status.
Esse é o apego que nos faz consumir para se sentir parte de algum contexto, por exemplo, itens de tecnologia ou roupas de uma marca específica. Comprar te traz uma sensação de pertencimento ou status e a melhor tradução disso é uma frase maravilhosa do Robert Quillen:
“Muitas pessoas gastam dinheiro que não tem para comprar coisas que não precisam para impressionar pessoas que não gostam.”
Bastante claro, né? Para não falar que é um tapa na cara. Pessoas se endividam para se sentir parte de algo, mas vamos falar sobre isso mais para frente! E aí? Qual dos apegos você mais tem com as suas coisas?
Como desapegar?
Mas e aí? Como podemos fazer o desapego ser um processo menos traumático e/ou doloroso?
Primeiro de tudo, ter em mente que as coisas são apenas coisas, e que a vida é feita de ciclos. Nada precisa ficar para sempre se não faz mais sentido. Independentemente do que é, alguma fase importante da vida, ou uma lembrança de alguém especial, as coisas não são mais importantes que as pessoas e as relações. Quanto mais coisas você tem na sua casa, mais tempo precisa para administrar todas elas e menos tempo terá para aproveitar com quem realmente é importante para você. Além disso, você pode estabelecer alguns critérios na hora que for fazer o desapego como “Usei nos últimos 6 meses?”, “Me serve?”, “Faz sentido ficar?”, entre tantas outras perguntas. Mas seja bem sincero com você mesmo.
O desapegar não é jogar coisas fora por jogar. É manter na sua casa os que realmente são importantes, porque SER é mais importante do que TER. Em um mundo no qual para ser alguém relevante é preciso ter, precisamos mudar esse conceito e focar no ter menos e ser mais.
“não somos aquilo que temos; somos o que fazemos, o que pensamos e as pessoas que amamos.”
Francine Jay
No processo de organização que faço na casa dos clientes, o primeiro passo é o desapego. Depois que passamos dessa fase, eles se mostram mais aliviados, mais leves e todo o processo da organização flui, pois além de definimos a “casinha” de cada coisa, o acúmulo de coisas gera estresse e quando tiramos coisas que não usamos ou que não são importantes, ficamos mais felizes e aliviados.
Tem um post aqui no blog que fala do Princípio do Pareto, e ele fala da proporção 20/80. Neste caso se você tem 100 peças de roupa, você usa somente as 20 preferidas. As outras 80 ficam lá ocupando o seu guarda-roupa. E aí? Vamos desapegar de coisas que não importam, que ocupam espaço e que geram estresse?
Vamos começar hoje a desapegar tendo menos e sendo mais!
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